quinta-feira, 19 de abril de 2012

Abril Vermelho em Uberlândia contra a violência e criminalização dos movimentos sociais é recebido à bala.


Na manhã de terça-feira do dia 17 de abril de 2012 iniciou-se a atividade do Abril Vermelho em frente à reitoria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) contando com a presença de cerca de 300 manifestantes. A atividade tradicionalmente organizada pelo MST dessa vez contou com a presença de outros vários movimentos e entidades do campo e cidade de Uberlândia e região através da criação do Comitê de Combate a Violência e Criminalização dos Movimentos Sociais.

O Abril Vermelho em Uberlândia teve o objetivo de evidenciar o avanço da criminalização dos movimentos sociais e a crescente onda de violência e repressão, denunciando a impunidade das execuções de vinte e um sem-terra no Eldorado dos Carajás (PA) em 1996, cinco em Felisburgo (MG) no ano de 2004 e o recente assassinato de três companheiros do MLST em Uberlândia.  Contou ainda com uma pauta de reivindicações para a Universidade Federal de Uberlândia demandando o retorno das atividades da assessoria jurídica popular da UFU para os movimentos sociais, criação de projetos de ensino, pesquisa e extensão voltados para a Reforma Agrária e Urbana, e não implementação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) no Hospital Universitário.

A UFU respondeu nossa manifestação (veja o video ao lado) com o fechamento dos portões e o som explosivo de uma arma de fogo disparada por um segurança privado a fim de reprimir a manifestação. Indignados os manifestantes exigiram a retirada das armas das mãos dos seguranças, o que foi acordado com a Polícia Militar e Polícia Federal e não foi cumprido.

Sob clima de tensão, nos mantivemos firmes mesmo com as intimidações, exigindo da reitoria da universidade a recepção de uma comissão do comitê para apresentação de nossa carta de reivindicações. Na parte da tarde a comissão foi recebida pelo vice-reitor Darizon Alves de Andrade, onde o mesmo não quis se comprometer com as reivindicações afirmando que não é função da Universidade atender as questões da Reforma Agrária. Sobre a vigilância o vice-reitor afirmou que defende o armamento para garantir a integridade patrimonial da universidade, mas não soube esclarecer como e de que forma.

O papel da Universidade Federal de Uberlândia está sendo o de produzir conhecimento orientado por uma lógica de um modelo de desenvolvimento econômico que exclui as camadas mais necessitadas e populares da sociedade uberlandense e região, não cumprindo com os objetivos da universidade pública de criar mecanismos de integração e desenvolvimento que estimule a solidariedade na construção de uma sociedade democrática e justa, no mundo da vida e do trabalho. Estes objetivos inclusive constam em estatuto da UFU o que demonstra o quanto é mentirosa as declarações do vice-reitor ao fazer uma afirmação que isenta a universidade de suas responsabilidades.

Em Uberaba
No mesmo dia, em outra ação do Abril Vermelho cerca de 80 famílias Sem Terra, do MST, do Acampamento Roseli Nunes II – MST do Triângulo Mineiro - ocuparam a Fazenda Inhumas, no município de Uberaba. Na madrugada de 18/04, por volta das 05h00min, um grupo de segurança privada da Empresa Máster chegou ao acampamento efetuando disparos contra os militantes. Sem mandado judicial, por volta das 08h00min, a Polícia Militar de Uberaba prendeu algumas das lideranças: Edvaldo Soares e Adelson Luís. A PM alegou flagrante o que não ocorreu uma vez que as famílias já estavam com suas barracas erguidas e com estrutura montada no imóvel. A Fazenda Inhumas faz parte de uma grande fazenda que foi desmembrada em três fazendas. As outras duas fazendas já estão tomadas por canavial que produz cana para a Usina Vale do Tejuco, que integra o Consórcio CMAA – Companhia Mineira de Açúcar e Álcool -, que está instalando mais outras duas Usinas na região do Triângulo.

Sabemos que isso tem a ver com a adoção do Estado brasileiro de um modelo de desenvolvimento voltado para o agronegócio exportador que traz consequências negativas para os trabalhadores no campo e cidade. Quem ousa lutar e resistir é tratado com repressão e violência.

O dia de 17 de abril de 2012 torna-se mais um marco histórico para a unidade da classe trabalhadora e para as lutas dos movimentos sociais de Uberlândia e região que não se curvam aos interesses do capital e lutam por outro projeto societário.

Reforma Agrária já!
Quando o campo e a cidade se unem, a burguesia não resiste!
Viva a unidade da classe trabalhadora do campo e cidade! 
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CARTA DO COMITÊ DE COMBATE A VIOLÊNCIA E CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS PARA A UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Uberlândia 17 de Abril de 2012
Entendendo que o Estado brasileiro hoje adotou como modelo de desenvolvimento o agronegócio exportador que traz consequências negativas para os trabalhadores no campo, quilombolas e indígenas;
Entendendo que este mesmo modelo afeta a população da cidade na medida em que a saída dos trabalhadores do campo levou a uma urbanização extremamente acelerada no Brasil sob os marcos da desigualdade social e ilegalidade;
Entendendo que o papel da Universidade Federal de Uberlândia está sendo o de produzir conhecimento orientado por essa lógica desenvolvimentista que exclui as camadas mais necessitadas e populares da sociedade uberlandense e região, não cumprindo com os objetivos da universidade pública de criar mecanismos de integração e desenvolvimento que estimule a solidariedade na construção de uma sociedade democrática e justa, no mundo da vida e do trabalho;
Entendendo que o parágrafo anterior tem como sua última evidência a proibição da ESAJUP (Escritório de Assessoria Jurídica Popular) em prestar atendimento e auxílio aos movimentos sociais de luta pela terra no processo da Reforma Agrária e que isso evidencia mais uma vez a exclusão de discriminação com setores das classes trabalhadores organizados ou não;
Entendendo que o conjunto de movimentos e entidades da sociedade sente-se mais uma vez prejudicada com a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares uma vez que ela significa a abertura da privatização da saúde pública;
Entendendo que existe uma onda crescente da violência, criminalização e extermínio de militantes dos movimentos sociais e populações pobres do campo e cidade na luta por seus direitos e condições dignas de sobrevivência tendo como último fato trágico, a execução de três militantes da reforma agrária de Uberlândia (militantes que inclusive estavam em áreas de conflitos em que a ESAJUP foi proibida de prestar auxílio jurídico pela reitoria da UFU).
Entendendo que o fato lamentável e ultrajante em que a segurança terceirizada da UFU apontou e disparou com uma arma de fogo para reprimir os manifestantes na atividade pacífica de hoje na porta da reitoria (atividade que justamente denunciava a questão da violência no campo e cidade);
Nós do Comitê de Combate a Violência e Criminalização dos Movimentos Sociais viemos colocar por meio desta, nossas demandas para a Universidade Federal de Uberlândia:
1)      Retorno das atividades de assistência da ESAJUP aos Movimentos Sociais;
2)      Criação de projetos de ensino, pesquisa e extensão que priorizem o auxílio às comunidades de assentamentos e acampamentos voltados para a Reforma Agrária e Urbana;
3)      Não implementação da EBSERH no Hospital Universitário da UFU.
4)      Desarmamento da segurança nos campi da UFU
5)      Audiência pública com o magnífico reitor Alfredo Júlio para esclarecimentos e posição oficial da Universidade frente às demandas.
Assinam este documento,
Comitê de Combate a Violência e Criminalização dos Movimentos Sociais.
MST, MLST, MPRA, MSTB, ADUFU, CSP-CONLUTAS, DCE-UFU, Coletivo DialogAção, Coletivo Vamos a Luta, Coletivo Juntos, Consulta Popular, Centro Acadêmico de História, Centro Acadêmico de Ciências Sociais, Movimento de Acesso ao Transporte Público, Central dos Movimentos Populares. 

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