Era 29 de maio de 2012, dia em
que conhecemos os candidatos à reitoria da universidade. Estudantes vinham
apressados, sobre os ventos de outono que anunciava na Universidade Federal de
Uberlândia o grande espetáculo de Milton Nascimento, coroação da audiência
pública que anunciara o projeto do novo Centro Cultural.
Seria mesmo o grande Bituca, dos
grandes festivais e do clube da esquina? Sim era ele. O grande artista trago
pelo magnífico reitor e auxiliado pelo futuro candidato a prefeitura municipal.
Logo se formaram filas e
distribuíram senhas, como aquelas dos galpões de sopa em que encontramos
pessoas ávidas por matarem sua fome. Mas no caso a avidez era por Milton
Nascimento.
Conversas entre entusiasmados,
empurrões e brigas entre pessoas que furavam as filas, contrastavam na busca
pelo convite que daria acesso ao grande espetáculo. Informações desencontradas
conduziam como uma boiada pessoas que não sabiam ao certo onde, como e quando
tiver em mãos aquele pequeno e bendito pedaço de papel.
E a audiência pública? A audiência era bem
vinda, pois quem ousa ser contra a cultura? Ainda mais com o show do Milton
Nascimento - diziam algumas pessoas que encontrava na fila.
Mas uma audiência pública com a retirada de
ingressos e que restringe acesso apenas para algumas centenas de pessoas? Isso
mesmo dizia uma funcionária. É o Milton minha gente!
Logo percebi que além desse fato
instigante e incômodo no acesso a suposta audiência existia dois tipos de
passaporte: um de cor laranja, destinado a um seleto grupo de pessoas com
direito a uma área privilegiada “vip” e outro de cor azul para os demais
plebeus.
Tudo estava pronto no Coliseu
moderno de Uberlândia, que inclusive tem nome de castelo e que ainda se
intitula “MASTER”. Barraquinhas de comidas, bebidas, balas e demais guloseimas
eram comercializadas. De(s) graça basta apenas o espetáculo.
Ao tentar me acomodar pela primeira vez senti
a discriminação a flor da pele. Seguranças verificavam em cada pessoa a
existência de uma pequena circunferência adesiva de cor amarela. Caso tivessem,
o acesso à área próxima do palco lhes esperava e com direito a quitutes, a
famosa “boca livre”.
Como não tinha, fiquei no meio do
corredor próximo a área e logo os seguranças deram um jeito de me retirar do
local, pois estava atrapalhando o trânsito e a visão das pessoas.
Cadeiras vazias no ambiente
“vip”, enquanto os demais lutavam pelos melhores lugares na “geral”. Silêncio,
silêncio, o show vai começar. Não! É apenas o início da “audiência pública” com
solenidades ao magnífico reitor, ao futuro candidato a prefeito e seus demais
comparsas. Poucas palmas e algumas vaias ecoam pelo saguão.
Para a audiência (não)pública do
Centro Cultural, poucas perguntas são exibidas para a plateia, em pequenos
vídeos e devidamente editados. Viva a tecnologia aliada à democracia! Limpa,
correta e pragmática.
Estudantes insatisfeitos tentam
se manifestar, mas em vão. Suas
perguntas não podem ser feitas. A justificativa? Eles querem questionar o que
não se pode. Estamos em período eleitoral.
De repente, uma heroica
professora em greve consegue subir ao palco. Diz em alto e bom tom sua luta e
pede um minuto de silêncio. Estamos velando a Educação! Aplausos ao final.
A hora do espetáculo chegou. O
gladiador dos tempos modernos subiu ao palco. Notei pouco entusiasmo em seu
rosto. Mas quem disse que o gladiador entrava toda vez no Coliseu com sede de
batalha e sangue?
A reconhecida genialidade
artística de Milton toca mentes e corações. Logo faz com que as pessoas entrem
em outro estado. É como se todos os problemas acerca do que o leva para aquele
momento desaparecessem. Talvez esse seja o efeito desejado.
Aplausos a cada música ensurdecem
o salão e a sensação era de que a cada palma propagava-se pelo ar uma solução
anestésica que temperava a ordem. Senti medo e angústia. Mas tinha que voltar
porque a hora do meu ônibus havia chegado. Tem troco para cinco reais?
Ricardo Takayuki
Tadokoro
2 comentários:
http://centroculturalufu.wordpress.com/2012/05/31/comentarios-a-cronica-pao-e-milton/
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