Estamos às vésperas de um congresso de interesse nacional para o Movimento Estudantil: o 52º Congresso da UNE (CONUNE). Esta nota tem objetivo de demonstrar melhor qual a significação deste congresso no atual contexto e quais nossos motivos e expectativas para esse evento político.
Desde 2008, quando nosso coletivo surgiu, estamos denunciando o aparelhamento e despolitização que vem sendo marca registrada dos espaços de debate e deliberação da UNE. Há décadas a UJS, juventude do PCdoB, joga com a apatia do movimento estudantil (principalmente em universidades particulares) aparelhando a estrutura da entidade (UNE) e a transformando em correia de transmissão dos interesses de governo (Lula e agora Dilma) e de suas políticas para a educação no país.
O nosso objetivo em participar desse congresso não é porque acreditamos que, no contexto atual, alteraremos a correlação de forças desta entidade, mas porque a UNE não é uma massa homogênea. Milhares de estudantes e diversos grupos políticos que participam da UNE estão interessados em enfrentar a crise do movimento estudantil e os projetos desastrosos de reforma do ensino superior que estão sendo apresentados pelo governo do PT e suas alianças de apoio. Reafirmamos que com muitos desses estudantes podemos construir importantes lutas, e por via deles, atingir dezenas de instituições de ensino, independente de estarem ou não na UNE.
Entendemos que as entidades representativas são instrumentos importantíssimos na articulação das lutas em defesa da educação pública. No entanto, as entidades, sendo ferramentas, não podem ser vistas como um fim em si mesmas. A entidade que se distancia dos interesses estudantis se “enferruja”, se torna apenas um corpo burocrático que não tem mais razão de existência, a não ser para a disputa infértil de cargos e posições majoritárias.
Foi desta avaliação que surgiu a idéia da construção de um espaço que superasse a disputa superestrutural das entidades e que aglutinasse grupos de estudantes na unidade de ações em comum capaz de acumular força política suficiente para enfrentar as conseqüências nefastas da precarização da educação implantadas pelo paradigma neoliberal. Portanto, entendemos a necessidade de avançar na discussão de um fórum que articule em um mesmo campo comum setores do ME que estão tanto na UNE quanto na ANEL.
Nossa concepção de unidade para a esquerda.
Não basta somente termos causas justas e em comum para que a unidade aconteça efetivamente dentro do campo da esquerda do Movimento Estudantil. É necessário que compreendamos o processo de disputa que ainda existe dentro deste setor seja pelos motivos da autoconstrução, seja pela disputa de hegemonia dentro do movimento. As vias para se chegar aos objetivos (que muita das vezes são comuns), não são as mesmas vias dentro do campo da esquerda. Essa talvez seja a principal questão da esquerda do movimento estudantil a ser superada.
A alternativa existente não é outra se não a construção de experiências unitárias capazes de articular os variados setores no campo da ação. Acreditamos que para o êxito dessas experiências, devem ter como centro o corte da luta de classes, impulsionando a superação da relação capital X trabalho.
Outro entendimento é que a unidade como força de luta por uma outra educação (a serviço de uma outra sociedade) não terá como se completar na simplificação da ação política. Não podemos considerar que os problemas de análises e reflexões colocadas pela prática possam ser resolvidos no interior dela por si só. É necessário também que façamos esforços de reflexão coletiva onde possamos superar no campo a falsa dicotomia entre teoria e prática.
É nesse sentido que os esforços de unidade devem se ampliar para além de pontualidades e objetivos imediatos.
A conjuntura da UFU para as eleições do CONUNE.
No caso da UFU configura-se o processo de disputa onde existem campos governistas que estão atualmente na gestão do DCE (UJS-PCdoB e Kizomba-PT) onde laçam suas teses para novamente se afirmarem ecos do governo federal, como a UNE tem sido nos últimos anos. Ao mesmo tempo, existem grupos e coletivos que atuam no campo da esquerda que, com exceção do coletivo DialgAção, nos últimos anos não se propõem a participarem dos espaços da UNE, basicamente por não acreditarem na legitimidade da entidade como representação do ME e não enxergarem nenhuma possibilidade de construção nesse espaço. Compreendemos e respeitamos a opção destes grupos, inclusive nunca deixamos de construir ações unitárias em pautas comuns que enfrentam o processo de precarização do ensino superior. Isso se expressou, por exemplo, nas lutas pela moradia estudantil, autonomia e democracia na utilização dos espaços da universidade pelos estudantes e na construção do Seminário Nacional de Educação. Apesar das dificuldades e de algumas divergências ainda presentes, acreditamos e sinalizamos sempre a abertura de diálogo e debate para que muitas das vezes possamos caminhar juntos.
Devemos deixar claro e publicizar também o fato de que 3 pessoas (1 pertencente ao Diretório Acadêmico de Direito 21 de Abril e 2 pertencentes ao coletivo Viramundo) nos procuraram. Em suas próprias palavras afirmaram que estavam “respondendo enquanto indivíduos” (por não terem deliberado no interior de suas organizações a participação no CONUNE) e que gostariam de propor, em nome da unidade da esquerda na UFU, uma ação local para construção de chapa para o CONUNE. Ao mesmo tempo propuseram que, ao se chegar ao CONUNE, cada grupo tomasse seus rumos, haja vista que os objetivos e articulações são diferentes para este espaço. Não consideramos que o estabelecimento local de uma unidade apenas formal com fins de eleger delegados para o CONUNE, e que não seja pautada na convergência e consenso político mínimo de reflexões acumuladas e direcionadas à ação, seja algum avanço para a unidade da esquerda.
Não temos acordo na construção unitária com essas pessoas. Os motivos são: 1) por não acreditar que as propostas apresentadas correspondam com nossa concepção de ação unitária, visto o que já expomos anteriormente; 2) pelo grupo de pessoas que nos procuraram não acordarem em assinar nossa tese.
Não podemos ser coniventes com oportunismos e construções pessoais suscitadas por pessoas politicamente indefinidas e que utilizam desta indefinição para construção de objetivos menos coletivos que pessoais. Nossa postura sobre isso é sólida por termos convicção que tais posturas não só prejudicam a própria unidade da esquerda como a construção de outro projeto social. Os prejuízos causados no movimento estudantil da UFU nos últimos tempos, explícitos para nós, que aqui atuamos, já foram suficientes para não mais respaldarmos esse tipo de prática.
Sendo assim, lançamos nossa tese como opção a ser avaliada ao conjunto de estudantes da UFU. Apesar do atropelo do debate, causado pelas amarras do processo relâmpago em que a atual gestão de DCE trouxe para a universidade, colocaremos todos os nossos esforços para fazer aquilo em que o DialogAção sempre se importou: fazer o debate a altura dos nossos problemas e lutar contra a apatia política de nossos pares com a perspectiva de avançar nos rumos da construção de uma educação pública, gratuita, de qualidade, democrática e popular.
Coletivo DialogAção
29 de abril de 2011
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