Segue abaixo a nota sobre a manifestação “È proibido proibir” tirada pelo Conselho de D.A.´s e C.A´s da UFU e elaborada por uma comissão em que membros do coletivo DialogAção fizeram parte.
Nota sobre a manifestação É Proibido Proibir
Origem da reivindicação
A ocupação da reitoria da UFU realizada pelo Movimento Estudantil no dia 12 de março, que paralisou as atividades do Conselho Diretor (Condir) para reivindicar a autonomia política e cultural dos estudantes na organização de suas próprias atividades, foi apenas a gota d'água que transbordou de uma cultura antidemocrática e repressiva que a administração superior da UFU vem impondo à comunidade universitária. A recente proibição uniliteral das festas e bebidas alcoólicas é apenas a ponta de um iceberg que tem como base um método de dirigir a Universidade que exclui a necessária consulta aos segmentos que constroem e vivenciam a UFU e uma concepção de ensino superior baseado em um modelo produtivista que resume o processo educacional ao ambiente estritamente acadêmico.
Nos últimos anos as principais questões da Universidade foram todas decididas sem que se levasse em consideração um espaço mínimo de debate para que posições divergentes pudessem ser colocas. Por exemplo, o REUNI foi votado em uma reunião escondida e sem a participação estudantil, o Restaurantes Universitário foi terceirizado nas férias, os cursinhos populares foram expulsos da UFU, as novas normas de graduação (CRA) e o novo Enem também não passaram pelo debate com os estudantes, etc. São vários os exemplos de postura antidemocrática que podem ser resumidas na simbologia do General Costa e Silva e do Rondon Pacheco, articuladores do AI5, que a administração da UFU emoldurou e colocou na entrada da reitoria como inspiração para seus trabalhos.
A manifestação
No dia 8 de março, segunda-feira, o DCE da UFU e diversos estudantes e artistas de nossa universidade, fartos de proibições, realizaram uma importante assembléia estudantil para debater a pauta que estava agendada para a reunião de sexta-feira no Condir: regulamentação da utilização dos espaços físicos da UFU. Já sabendo que o objetivo da reunião era sancionar a proibição já praticada pela reitoria, e conscientes de que os conselhos são estruturalmente antidemocráticos (por não haver paridade na representação dos segmentos), os estudantes decidiram realizar um festival cultural em forma de manifestação na porta da reitoria.
Dando um exemplo de organização e unidade, o movimento estudantil s
e dividiu em comissões para garantir a realização da manifestação e foi para a porta da Reitoria com cerca de 300 estudantes e diversas bandas dispostos a não sair de lá sem uma solução viável e democrática. No entanto, a administração ignorou a manifestação, retirou a pauta do conselho e não aceitou conversar com uma comissão formada pelos coletivos e entidades. A única alternativa de buscar diálogo que restou aos estudantes foi escalar o muro da Reitoria que estava trancada e entrar na sala de reunião do conselho para nos fazer ouvir.
Enfim, os estudantes deram um exemplo de capacidade de organização e politização, debatendo com o reitor de igual para igual e construindo soluções para as pautas levantadas. Mas infelizmente a mídia local e nacional, juntamente com figuras conservadoras de nossa universidade insistem em criminalizar os estudantes, destorcer os fatos e defender uma punição para os estudantes que “invadiram a reitoria e quebraram uma porta de vidro para entrar na sala do conselho”, quando na verdade o que ocorreu foi que a porta se quebrou na tentativa da vigilância da UFU escoltar o reitor para da sala em meio a vaias e gritos de “covarde” de 300 estudantes que pela primeira vez puderam ser ouvidos pela atual administração.
O Futuro
Certamente, para o sensacionalismo da mídia e aqueles que são contrários ao movimento, o que se viu foi um ato de vandalismo em prol da venda de cerveja, mas pra quem acompanhou o ato e vem vivendo os dilemas de nossa Universidade foi uma bela demonstração de que apenas com mobilização vamos conseguir construir uma Universidade verdadeiramente pública, gratuita, de qualidade e, de fato, democrática. O que nós conseguimos foi que pela primeira vez em muitos anos teremos uma assembléia universitária paritária entre os três segmentos, marcada para o dia 30 de março, para enfim resolvermos as questões polêmicas da UFU com ampla participação no debate.
Entendemos que educar não é proibir. O importante debate sobre utilização de álcool e drogas tem que se guiar pela conscientização e não pela imposição moral. Também entendemos que educar é politizar, por isso repudiamos as posições que buscam criminalizar a mobilização estudantil. Por fim, entendemos que educar é dar desenvolvimento cultural e, se a única arte que a administração da UFU aprecia é a a arte de limitar, nós seguiremos na luta pelo mais alto grau de liberdade e autonomia humana
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