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Apresentação
Estamos às vésperas de dois congressos de interesse nacional para o movimento estudantil: o CNE (Congresso Nacional de Estudantes) e o 51º Conune (Congresso da UNE). Esta tese tem o objetivo de explicar o que são estes espaços, qual o significado deles no contexto atual e porque participar destes congressos numa época em que a UNE (União Nacional dos Estudantes) se mostra mais desgastada do que nunca. Esta entidade que foi durante décadas uma referência das lutas estudantis, hoje é vista pelos estudantes como algo totalmente distante de seu cotidiano e, não raramente, é alvo de repúdio de boa parte daqueles que se revoltam com as medidas que esta entidade vem defendendo nos últimos anos.
As análises contidas neste documento foram elaboradas por jovens que atuam cotidianamente no movimento estudantil. Estamos nos Conselhos Universitários, nos Diretórios e Centros Acadêmicos, no DCE, nos congressos, nas salas de aula, nas mobilizações, etc. Acreditamos que a organização autônoma dos estudantes tem o potencial de protagonizar a construção de uma Universidade popular e democrática. Acreditamos nesta luta!, por isso não somos um grupo que dá as caras apenas em época de eleição. Mesmo porque, entendemos que, apesar da importância das entidades, o movimento estudantil não se resume a estas disputas. Superar este falso dilema é o desafio destes dois congressos. E o desafio do estudante crítico da UFU é saber identificar qual tese não está preocupada apenas com disputa de cargos ou direções de entidades.
O CNE nasceu a partir da intenção do PSTU em construir uma entidade alternativa à UNE. Acreditamos que o debate sobre a ruptura com a UNE e a construção de uma nova entidade deve se dar durante um intenso trabalho de mobilização/politização do estudantes e de diálogo com os diversos grupos político. Este debate não pode chegar até nós através de uma burocracia partidária. Mais do que isso, não concordamos que a criação de uma nova entidade seja a solução para a crise do movimento estudantil. Não podemos ter preguiça de tentar entender as complexas causas dessa apatia, reduzindo tudo à uma simples “crise de direção”. A criação da Conlute em 2005 foi a negação histórica desta tese. Entendemos que outros fatores influenciam, inclusive mais profundamente, nesta crise. Nosso dever é explicitar e enfrentar esses fatores. É isso que buscaremos neste congresso.
Já o congresso da UNE traz as marcas da despolitização e aparelhamento. Há anos a UJS, juventude do PC do B, joga com a apatia do movimento estudantil, principalmente nas Universidades particulares (onde há mais dificuldade de organização e participação no movimento estudantil), para hegemonizar o congresso e utilizar a UNE em função dos interesses do governo. Participaremos deste congresso, não porque acreditamos que, no contexto atual, alteraremos a correlação de força desta entidade, mas porque a UNE não é uma massa homogênea. Milhares de estudantes e diversos grupos políticos que participam da UNE estão interessados em enfrentar a crise do movimento estudantil e os projetos desastrosos de reforma do ensino superior que estão sendo apresentados pelo governo Lula. Acreditamos que com muitos desses estudantes podemos construir importantes lutas, e por via deles, atingir dezenas de instituições de ensino, independente de estarem ou não na UNE. Ou seja, podemos construiu uma unidade com estudantes que vão tanto ao CNE quanto ao congresso da UNE em torno de pautas concretas do movimento estudantil. O movimento pela educação não pode parar.
Como poderá ser melhor compreendido ao logo deste texto, nos diferenciamos radicalmente da tese concorrente (escrita pela UJS) na prática e nos posicionamentos. Ao longo da formação de nosso grupo procuramos entender profundamente a situação do movimento estudantil atual, em um debate aberto, claro e horizontal, para que os delegados que irão nos representar nestes congressos não sejam enganados e seduzidos a participar de algo que não compreendem. Nossas análises não chegaram pelo Correio e nem somos financiados por dinheiro que não se sabe de onde vem. Prezamos pela autonomia!
Os nossos posicionamentos são por uma universidade radicalmente distinta da atual. Os projetos que vem modificando a Universidade ao longo do governo Lula, no nosso entendimento, aprofundam a lógica que combatemos: a mercantilização/ instrumentalização do conhecimento. Também aqui a autonomia deve-se fazer presente. O movimento estudantil não pode ser um eco do governo federal, como a UNE tem sido nos últimos anos.
Todas essas dificuldades só podem ser enfrentadas criticamente. Porém a critica deve ser praticada de forma conseqüente. Temos a perspectiva de participar desses congressos distintos porque sabemos que em ambos espaços encontraremos estudantes dispostos a enfrentar a crise atual do movimento estudantil e com os quais nos identificamos em diversas lutas. A pura rejeição destes espaços ou, inversamente, a sacralização das entidades, não contribui em nada para o avanço da reorganização do movimento estudantil.
Faça sua opção pela autonomia e por um movimento com foco em nossas pautas, para alem da disputa de cargos.
Análise de Conjuntura
Governo Lula e Neoliberalismo
A conjuntura atual do governo brasileiro está dentro do processo de consolidação e reprodução da lógica neoliberal. O que se mostrava, em seu início, como uma promessa de profundas reformas no âmbito político, econômico e social acabou revelando-se uma espécie de “terceira via” periférica. O governo Lula, não só mantém a continuidade do ideário neoliberal como também o aprofunda alguns de seus aspectos. Observamos dentro de seu mandato uma “enxurrada” de reformas que conta como base de apoio, partidos de setores à direita e centro-esquerda. A opção por parte do PT em realizar essas alianças fizerem com que o partido abandonasse bandeiras de lutas históricas como, por exemplo, a auditoria da dívida externa e a recusa de acordos de ajuste do FMI. As propostas e suas respectivas reformas na previdência, trabalho, educação nos revelam a dimensão mais aparente do caráter neoliberal empregado a elas. Em um balanço geral, constata-se que cada vez mais o Estado se distancia de suas responsabilidades com os setores populares e transfere suas resoluções para a esfera do mercado (privatizações, terceirizações, redução ou até mesmo extinção do capital produtivo estatal, etc.).
A continuidade sem resistência do pacto com o capital internacional fez com que o governo Lula desse seqüência a política de juros altos e superávit primário para pagamento de dívidas externas, conseqüentemente quem paga essa dívida são os setores populares da sociedade brasileira (a classe-que–vive-do-trabalho). Só para exemplificar a disparidade entre gastos públicos e o pagamento da dívida, no primeiro orçamento preparado pelo governo do PT e sua equipe o que se acumulou em um mês de juros e amortizações foi suficiente para o dispêndio anual com atenção hospitalar e ambulatorial de todo o Sistema Único de Saúde. Todo o recurso do tão propagandeado Programa Bolsa Família correspondeu a dez dias de acumulação. Uma semana superou a dotação anual para o Programa Brasil Escolarizado. Um dia cobriu com sobras todo o gasto previsto para a construção de habitações populares. Uma hora superou a dotação anual para a conservação de patrimônios históricos. Desde o primeiro mandato para cá tais números não foram alterados significativamente dos apresentados, o que fica ainda mais evidente que o governo Lula se tornou em mais um arranjo político para atender os interesses das classes dominantes e o capital financeiro internacional.
No mundo do trabalho as mudanças foram gritantes. Para além da intervenção do governo em dar seqüência ao que chamamos de “flexibilização” das relações salariais e trabalhistas, ocorreu também o desmonte das articulações a nível nacional de suas formas de organização. Nesse segundo mandato que se encerra o desemprego se ampliou, a perda salarial vem corroendo ainda mais as condições de vida já degradadas dos trabalhadores e acompanhamos o crescimento do precário mercado do trabalho informal. Cada vez mais, consolida-se o processo de cooptação das classes trabalhadoras em função dos interesses do capital, atolando ainda mais no processo de desertificação social e política do país.
Crise e economia
Já não é novidade que a economia capitalista constantemente é aplacada por grandes períodos de depressão. Entretanto, a atual crise que emergiu no ano de 2008, em função da especulação imobiliária norte-americana, coloca-se como a mais grave desde a grande depressão de 1929. Mas como os governos em vários países estão enfrentando essa crise? Para responder, basta evidenciar os fatos que se desencadearam recentemente. Segundo o IPS (Institute for Plicy Studies) para socorrer os bancos e seguradoras foram destinados mais de US$4 trilhões, valor que corresponde a 40 vezes mais do que os recursos destinados ao combate à pobreza e as mudanças climáticas. Enfim, a prioridade dos Estados Nacionais diante a crise reside no socorro aos bancos, seguradoras e empresas, estas mesmas que foram responsáveis por todo esse problema. No Brasil o que acontece também não é muito diferente. Para exemplificar, basta lembrar os esforços do governo na redução de impostos tributários às empresas do setor automobilístico e outros setores industriais reduzindo às taxas do IPI (Imposto Sobre Produto Industrializado) ao mesmo tempo em que é complacente com as milhares demissões que vem ocorrendo no país. Portando a crise tem um enorme custo social que se resume em dois aspectos: o desemprego e o aumento da pobreza. Segundo estimativas da OIT, em 2009, 50 milhões de trabalhadores perderão seus empregos. Soluções à moda keynesiana começam a ressuscitar de seus túmulos, mas sabemos muito bem que essa panacéia não vai durar por muito tempo. Para que haja uma verdadeira alteração desta realidade é preciso que mudanças muito mais profundas e radicais (que vão à sua raiz) sejam colocadas em prática. Nesse sentido é que se coloca a necessidade de novos paradigmas econômicos e sociais que transformem o modo de vida e reprodução humana.
Diante deste contexto propomos:
1) Que os trabalhadores não devam pagar a conta pelos prejuízos causados pela atual crise financeira
2) Barrar o avanço das terceirizações dos trabalhadores e não aceitar a transformação deles em Pessoas Jurídicas.
3) Para as empresas e bancos que sinalizarem suas falências: abertura para a co-gestão dos trabalhadores, da participação popular e institucional.
4) Não estimular o sistema de rotatividade de mão-de-obra para que não aumente a reservas laborais das indústrias e empresas de serviços.
5) Moratória e imediata auditoria da dívida pública, liberando recursos para atender às necessidades sociais.
6) Manutenção e recuperação dos salários reais dos trabalhadores.
Educação no Ensino Superior X Reformas
Para pensar a situação do Ensino Superior no Brasil, não podemos deixar de lado as estratégias político-ideológicas que a hegemonia neoliberal impõe sobre ele. Contemporaneamente observamos a apropriação perversa de históricas bandeiras de lutas progressistas. Políticas pretensamente “inclusivas” ocultam sua natureza nefasta e regressiva. Deve-se levar em conta que o chamado processo de “modernização” do MEC coincide fundamentalmente com as diretrizes convencionadas pelo Banco Mundial, BID e da CEPAL. As diretrizes têm como premissas: 1) a racionalização do acesso não por medidas universais, mas por cotas; 2) programas de gratificações por produtividades para estimular a docência; 3) vinculação entre os planos de desenvolvimento institucional com a participação da iniciativa privada (Leis de inovação tecnológica); 4) avaliação padronizada da “qualidade” (ENADE) orientada pelo viés da teoria do capital humano; 5) avaliação (SINAES) e financiamento (financiamento por meio de contratos); 6) direcionamento do “mercado educativo” da instituição para o âmbito regional; 7) associação linear e estreita entre eficiência acadêmica e pragmatismo universitário.
No governo Lula a história começa com a criação de um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) que tinha como incumbência analisar a situação de ensino superior no país e apresentar um plano de ação. Os resultados apresentados “pintaram” um quadro fatalista e catastrófico do Estado brasileiro orientados pela idéia crise fiscal e uma suposta incapacidade de realizar investimentos. Iniciou-se então um processo de medidas acordadas entre o Brasil e os Organismos Internacionais para o PNE (Plano Nacional de Educação). Desta configuração surgiram os programas de Reforma Universitária (REUNI), PROUNI, SINAES, Leis de Inovação Tecnológica, ampliação dos cursos à distância e recentemente o projeto de Vestibular Unificado.
O Plano de Reestruturação das Universidades Federais, REUNI, é uma política educacional que tem como característica fundamental a flexibilização curricular e trabalhista, racionalização de recursos e ensino à distância como forma de democratização do acesso e de formação de professores, tendo como “pano de fundo” atender os interesses e exigências do mercado. Alguns de seus resultados criaram condições para a adoção de bacharelados interdisciplinares e cursos de curta duração (formando “tecnólogos”), com um crescimento “inchado” do ensino em detrimento da pesquisa e extensão, precarizando o trabalho docente e expandindo a universidade sem garantia de qualidade.
Por meio de uma estratégica publicitária milionária, o PROUNI se apresenta para o público como um revolucionário programa de inclusão de jovens ao ensino superior. Mas o que se revela de fato é que este programa repassa recursos públicos (com cifras expressivas) para as instituições privadas, por meio de isenção fiscal. Segundo a Andes–SN, o governo pode deixar de arrecadar R$ 4 bilhões em quatro anos. Com apenas um quarto disso, seriam criadas 400 mil vagas nas universidades federais em apenas um ano. O MEC estima que criará esse mesmo número de vagas em quatro anos de ProUni. Em suma, temos a oferta de cursos de baixa qualidade a um custo público alto que vai direto para as finanças da iniciativa privada, ou seja, mais uma vez a mercantilização do ensino avança sobre as IFES.
Em relação ao SINAES seu objetivo oculto é ajustar a educação superior brasileira às exigências de avaliação inseridas nos documentos emanados dos organismos internacionais. Supostamente um indutor do aumento da qualidade de cursos e fiscalizador das instituições particulares, o SINAES serviria, na realidade, para coagir as instituições de ensino superior a se adequarem ao modelo que está sendo implantado, impondo uma dinâmica competitiva e quantitativa.
Já as Leis de Inovações Tecnológicas acabam incentivando a criação de nichos privilegiados que recebem recursos para seus grupos, mas não para a universidade pública que cede espaço físico, laboratórios, equipamentos (o investimento mais oneroso) e os próprios pesquisadores. Existe ainda outro aspecto que garante a possibilidade de pagamento dos pesquisadores pelo seu envolvimento em projetos financiados pela lei, garantido que os recursos sejam destinados para grupos de pesquisas que despertam interesse das grandes empresas (Fundos Setoriais). Dessa maneira a Lei atrai pelo seu financiamento (renda extra) e ideológico convertendo o docente em “empreendedor” e “empresário”, cujo capital é o patrimônio público.
Enfim, observando essas políticas em curso chegamos à constatação do avanço do capital sobre a educação reduzindo a figura do Estado como mero agente avaliador e regulador deixando para o mercado a definição dos projetos e investimentos de recursos públicos.
Movimento Estudantil
Dentro deste contexto, o que propomos para um novo movimento estudantil?
Combater a cultura da apatia política
É evidente que o período que chamamos de neoliberalismo, dos anos 90 aos nossos dias, impactou negativamente não só em nossa organização, mas também na disseminação de valores individualistas buscando reduzir tudo á lógica instrumental de mercado. Neste sentido uma reorganização do movimento estudantil passa necessariamente pela construção de uma cultura política. É necessário um trabalho de formação e diálogo para evidenciar ao conjunto dos estudantes o quanto é desumanizador e alienante os processos pelos quais nossas vidas estão sendo submetidas. E o combate a isso é o envolvimento dos estudantes numa organização coletiva, autônoma e de muita luta no dia-adia.
Combate às opressões e preconceitos
Alem de desconstruir os valores individualistas, devemos construir nos seio de nosso movimento instâncias verdadeiramente democráticas. Mais que isso, é necessário combater a cultura, que freqüentemente reproduzimos, de opressões e preconceitos de gênero e racial no interior da Universidade e do movimento estudantil. A participação de mulheres, negros e homossexuais no movimento estudantil tem, portanto, uma dupla importância: defender a Universidade pública, gratuita e de qualidade e construir as igualdades raciais e de gênero. Não há democracia sem condições iguais de participação e pluralidade de idéias.
Agitar as Universidades pagas
Uma das causas mais diretas da crise de organização nacional do movimento estudantil é, sem dúvida, o “boom” de Universidades particulares que foram criadas nos últimos anos. Hoje 70% dos estudantes do ensino superior brasileiro estudam nas particulares e a organização de um movimento estudantil, de fato, nestes lugares é ainda insipiente. Mesmo porque o ambiente privado é muito mais duro com uma organização que se propõe combativa. Alem das repressões mais evidentes, a vida universitária nas particulares é muito diferente das públicas. A pressão da lógica instrumental no cotidiano desses estudantes é muito maior, o que dificulta a participação no movimento estudantil. Além disso, o ProUni produz um efeito devastador para a autonomia do movimento criando ilusões em relação ao governo Lula.
Neste sentido, não é de se espantar que a UJS consiga uma ampla base de apoio nas faculdades privadas. As portas ficam abertas para o oportunismo, para quem joga com a despolitização e para quem é financiado pelo governo. Em época de congressos da UNE caravanas de estudantes são levados sem a compreensão da responsabilidade que é ser um representante dos estudantes, como se fosse apenas uma viagem para um mundo de festas. E não é só isso. A juventude não pode virar as costas para os 90% de jovens que não têm acesso à Universidade e paras os graves problemas educacionais.
Carteirinhas de meia-entrada gratuitas de descentralizadas!
Está em tramitação no congresso uma proposta absurda que institui cotas de apenas 40% dos ingressos de atividades culturais e esportivas para a meia-entrada. E não é só: essas carteirinhas só poderiam ser emitidas pela UNE, o que daria à esta entidade o monopólio comercial da meia-entrada. Somos contra este golpe que a UNE quer dar nos estudantes. O direito à meia-entrada é uma conquista histórica, e direito não se vende!
Devemos negar veementemente o modelo da contribuição compulsória via esquema das carteirinhas. A história tem mostrado que a “carteirização” da UNE só contribuiu para afastá-la mais ainda do cotidiano dos estudantes. Daí para a burocratização foi um passo. Criaram-se entidades com mega-estruturas desprovidas de sujeitos, grandes máquinas com enorme arrecadação financeira mas sem nenhum poder de mobilização e representatividade. Por isso, reivindicamos a adoção de contribuição voluntária, não só na UNE, mas em todas as entidades do ME. Esta medida tem por objetivo garantir a autonomia política da entidade, que deve ser baseada na sua representação e na participação, forjada nas lutas.
Defender uma nova entidade, a UNE ou a unidade na luta?
Entendemos que as entidades representativas são instrumentos importantíssimos na articulação das lutas em defesa da educação pública. No entanto, as entidades, sendo ferramentas, não podem ser vistas como um fim em si mesmas.
A entidade que se distancia dos interesses estudantis se “enferruja”, se torna apenas um corpo burocrático que não tem mais razão de existência, a não ser para a disputa infértil de cargos e posições majoritárias. Se, nesse momento histórico, a UNE não tem condições de se configurar como ferramenta de defesa efetiva das bandeiras estudantis, não há motivos para a defesa sagrada desta entidade, baseando-se apenas no seu passado de lutas, que está cada vez mais distante. Aliás, a argumentação de defesa em função de um passado de lutas, tem se mostrado cada vez mais problemática quando temos um ex-sindicalista que, hoje na presidência, ataca o direito dos trabalhadores. Os movimentos precisam olhar para o presente e vislumbrar um futuro diferente, sem saudosismos...
Essa análise indica que somos favoráveis à fragmentação do movimento estudantil? Claro que não. Mas, acima da defesa das “ferramentas”, está a defesa das nossas bandeiras. Por isso, nossa postura com relação a esse ponto é bastante clara. Apoiamos as lutas travadas tanto por dentro quanto por fora da UNE. Assim, defendemos uma unidade efetiva na luta, e não uma unidade formal apenas pelo vínculo a uma mesma entidade. Isso significa que legitimamos a UNE? Também não. Nas principais lutas do movimento estudantil, como a do Reuni, fomos nós que buscamos preencher as lacunas abertas pelo afastamento da UNE dos estudantes.
Em outras palavras, defendemos a unidade a partir de nossas bandeiras de luta e não em torno de um aparelho burocrático, transformado em secretaria do Ministério da Educação, ou de uma possível nova entidade desprovida de base social. A questão é simples: devemos construir ao lado de quem? Construiremos ao lado daqueles que constroem a luta contra as políticas de desmonte da universidade pública independentemente da entidade que reivindicam.
Somente a partir disso, de um intenso trabalho a ser realizados por nós mesmos, de organizar das lutas que necessitamos, assumindo também a responsabilidade pela crise de organização do movimento estudantil é que vamos conseguir avançar na construção de um novo clico organizativo. Quando conseguirmos efetivamente reerguer o movimento estudantil teremos condições de discutir sobre o caráter das entidades sem que isso se torne uma disputa sem sentido para a maioria dos estudantes.
Movimento Estudantil
Dentro deste contexto, o que propomos para um novo movimento estudantil?
Combater a cultura da apatia política
É evidente que o período que chamamos de neoliberalismo, dos anos 90 aos nossos dias, impactou negativamente não só em nossa organização, mas também na disseminação de valores individualistas buscando reduzir tudo á lógica instrumental de mercado. Neste sentido uma reorganização do movimento estudantil passa necessariamente pela construção de uma cultura política. É necessário um trabalho de formação e diálogo para evidenciar ao conjunto dos estudantes o quanto é desumanizador e alienante os processos pelos quais nossas vidas estão sendo submetidas. E o combate a isso é o envolvimento dos estudantes numa organização coletiva, autônoma e de muita luta no dia-adia.
Combate às opressões e preconceitos
Alem de desconstruir os valores individualistas, devemos construir nos seio de nosso movimento instâncias verdadeiramente democráticas. Mais que isso, é necessário combater a cultura, que freqüentemente reproduzimos, de opressões e preconceitos de gênero e racial no interior da Universidade e do movimento estudantil. A participação de mulheres, negros e homossexuais no movimento estudantil tem, portanto, uma dupla importância: defender a Universidade pública, gratuita e de qualidade e construir as igualdades raciais e de gênero. Não há democracia sem condições iguais de participação e pluralidade de idéias.
Agitar as Universidades pagas
Uma das causas mais diretas da crise de organização nacional do movimento estudantil é, sem dúvida, o “boom” de Universidades particulares que foram criadas nos últimos anos. Hoje 70% dos estudantes do ensino superior brasileiro estudam nas particulares e a organização de um movimento estudantil, de fato, nestes lugares é ainda insipiente. Mesmo porque o ambiente privado é muito mais duro com uma organização que se propõe combativa. Alem das repressões mais evidentes, a vida universitária nas particulares é muito diferente das públicas. A pressão da lógica instrumental no cotidiano desses estudantes é muito maior, o que dificulta a participação no movimento estudantil. Além disso, o ProUni produz um efeito devastador para a autonomia do movimento criando ilusões em relação ao governo Lula.
Neste sentido, não é de se espantar que a UJS consiga uma ampla base de apoio nas faculdades privadas. As portas ficam abertas para o oportunismo, para quem joga com a despolitização e para quem é financiado pelo governo. Em época de congressos da UNE caravanas de estudantes são levados sem a compreensão da responsabilidade que é ser um representante dos estudantes, como se fosse apenas uma viagem para um mundo de festas. E não é só isso. A juventude não pode virar as costas para os 90% de jovens que não têm acesso à Universidade e paras os graves problemas educacionais.
Carteirinhas de meia-entrada gratuitas de descentralizadas!
Está em tramitação no congresso uma proposta absurda que institui cotas de apenas 40% dos ingressos de atividades culturais e esportivas para a meia-entrada. E não é só: essas carteirinhas só poderiam ser emitidas pela UNE, o que daria à esta entidade o monopólio comercial da meia-entrada. Somos contra este golpe que a UNE quer dar nos estudantes. O direito à meia-entrada é uma conquista histórica, e direito não se vende!
Devemos negar veementemente o modelo da contribuição compulsória via esquema das carteirinhas. A história tem mostrado que a “carteirização” da UNE só contribuiu para afastá-la mais ainda do cotidiano dos estudantes. Daí para a burocratização foi um passo. Criaram-se entidades com mega-estruturas desprovidas de sujeitos, grandes máquinas com enorme arrecadação financeira mas sem nenhum poder de mobilização e representatividade. Por isso, reivindicamos a adoção de contribuição voluntária, não só na UNE, mas em todas as entidades do ME. Esta medida tem por objetivo garantir a autonomia política da entidade, que deve ser baseada na sua representação e na participação, forjada nas lutas.
Defender uma nova entidade, a UNE ou a unidade na luta?
Entendemos que as entidades representativas são instrumentos importantíssimos na articulação das lutas em defesa da educação pública. No entanto, as entidades, sendo ferramentas, não podem ser vistas como um fim em si mesmas.
A entidade que se distancia dos interesses estudantis se “enferruja”, se torna apenas um corpo burocrático que não tem mais razão de existência, a não ser para a disputa infértil de cargos e posições majoritárias. Se, nesse momento histórico, a UNE não tem condições de se configurar como ferramenta de defesa efetiva das bandeiras estudantis, não há motivos para a defesa sagrada desta entidade, baseando-se apenas no seu passado de lutas, que está cada vez mais distante. Aliás, a argumentação de defesa em função de um passado de lutas, tem se mostrado cada vez mais problemática quando temos um ex-sindicalista que, hoje na presidência, ataca o direito dos trabalhadores. Os movimentos precisam olhar para o presente e vislumbrar um futuro diferente, sem saudosismos...
Essa análise indica que somos favoráveis à fragmentação do movimento estudantil? Claro que não. Mas, acima da defesa das “ferramentas”, está a defesa das nossas bandeiras. Por isso, nossa postura com relação a esse ponto é bastante clara. Apoiamos as lutas travadas tanto por dentro quanto por fora da UNE. Assim, defendemos uma unidade efetiva na luta, e não uma unidade formal apenas pelo vínculo a uma mesma entidade. Isso significa que legitimamos a UNE? Também não. Nas principais lutas do movimento estudantil, como a do Reuni, fomos nós que buscamos preencher as lacunas abertas pelo afastamento da UNE dos estudantes.
Em outras palavras, defendemos a unidade a partir de nossas bandeiras de luta e não em torno de um aparelho burocrático, transformado em secretaria do Ministério da Educação, ou de uma possível nova entidade desprovida de base social. A questão é simples: devemos construir ao lado de quem? Construiremos ao lado daqueles que constroem a luta contra as políticas de desmonte da universidade pública independentemente da entidade que reivindicam.
Somente a partir disso, de um intenso trabalho a ser realizados por nós mesmos, de organizar das lutas que necessitamos, assumindo também a responsabilidade pela crise de organização do movimento estudantil é que vamos conseguir avançar na construção de um novo clico organizativo. Quando conseguirmos efetivamente reerguer o movimento estudantil teremos condições de discutir sobre o caráter das entidades sem que isso se torne uma disputa sem sentido para a maioria dos estudantes.
Assinam esta tese:
Marco Willian - C. Sociais; Marília F. Lima - Direito; Ricardo Takayuki - C. Sociais; João C. Amâncio - Eng. Civil; Hallana G. de Lima - C. Sociais; Flávia Gabriela - História; Vilmar M. Junior - História; Airton Ribeiro da Cunha - História; Rafael Momenté Castro - Direito; Rafaela Santos Soares - Economia; Michelle M. Silva - Pedagogia; Guilherme B. Ribeiro - Direito; Jarbas H. Lelis - Eng. Civil; Marcelo H. Macedo - Eng. Civil; Marcelo de Paula - Eng. Civil; Edimar de F. Costa - Eng. Civil; Raquel R. Moura - Ed. Física; Públio D. Parreira - Direito; Ilmar Junior - Direito; André Santana - Veterinária; Michel Felipe - Veterinária; Leonardo Araújo - C. Sociais; Gabriel C. Magalhães - C. Sociais; Lucas Morato - C. Sociais; Mayla S. Borges - Enfermagem; Vitor Rafael A. de Noronha - Matemática; Laís Castro - Biomedicina/Psicologia; Fernando - C. Sociais
A eleição para o Conune será terça-feira, dia 26
Se você concorda com nossas idéias e tem interesse participar
dos congressos entre em contato com a gente!
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